Privatizar-se ou autonomizar-se?
"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário. E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence."
( Brecht)
Viver é a obra de arte mais bela, não se pode delegar o viver, e se o faz, despersonaliza-se, perde-se. Neste mundo capitalista no qual estamos inseridos, somos acometidos dia após dia por informações, dentre elas, as privatizações de empresas, ou seja, à venda de empresas estatais para grupos particulares.Interessante é perceber que estas privatizações não acontecem somente no âmbito político, mas sim humano, e isso é trágico.Sobre isso é que iremos refletir.
O homem sofre a influência do meio, isto é inegável, estas influências podem ser de ordem : social, cultural, política , religiosa, dentre outras. O perigo destas influências é a de o homem não conseguir mais se perceber como sujeito, e sim como um elemento de um conglomerado. As sociedades tendem a produzir sujeitos em massa, o processo de alienação e manipulação são constantes, pois são estes mesmos manipuláveis que legitimam interesses político-capitalistas. O sistema cria a cada momento mecanismos para que o homem não tome consciência de si. Os que querem se perpetuar em processos exploratórios, lutam pela não emancipação do sujeito, não permitem que ele inicie um processo de autonomia e hominização, pois os mesmos demoliriam seus processos de escravização .
Mas o que fazer perante esta realidade? O que fazer para não ser vítima deste processo desumano?Como evitar a privatização de si mesmo?Acredito que a filosofia como reflexão sistemática, rigorosa e orgânica, pode nos ajudar a perceber estas cadeias e ao mesmo tempo nos libertar delas, ou pelo menos de algumas delas.
Platão no capítulo VII da República, sua obra de maior destaque, nos fala de homens que estão presos na caverna, e que só vêem imagens sobre a realidade e não como ela é de fato. O processo para se libertar da caverna é doloroso. Engendrar uma nova vida fora da caverna significa mudar posturas, hábitos já cristalizados no ser, mas é possível a transmutação. Mais do que isso, o libertado passa agora a ter uma missão: voltar para a caverna e mostrar àqueles que ali estão, a existência de um outro plano epistemológico , uma nova configuração existencial, mesmo sabendo que poderá até ser morto por aqueles que não o compreenderem, o processo de libertação precisa iniciar-se.
Eis o grande desafio que está diante de nós: realizarmos uma metamorfose epistemológica. Despojar-se com coragem de pensamentos que já não fazem mais sentido, e assim, lutar por uma existência que possua um verdadeiro significado para nós e para aqueles que coexistem conosco.
A revolução começa em nós. Como diz Dalai-Lama: “seja a mudança que você quer ver no mundo”. Deixo aqui algumas perguntas oriundas da reflexão do belíssimo excerto de Bertold Brecht: Queremos mesmo delegar a outro o direito de padronizar a forma com a qual devemos amar? Vamos pensar aquilo que já programaram para que pensássemos, ou vamos pensar por conta própria? Continuaremos nos colocando como vítimas de um sistema que nos despersonaliza, ou lutaremos por nossa autonomia existencial? A resposta final é sua!Só não esqueça: não escolher é escolher.
Diego Vainer @2009
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