Ninguém vive só.
André Comte-Sponville.
Olhem para as pessoas andando na rua. Algumas estão sós, outras em casal ou em bando, outra falam nos celulares... A vida de todas é formada de outras vidas. Têm encontros, ou então vão fazer compras, ou vão trabalhar...
Nada disso seria possível sem outras vidas humanas, que o permitam ou o justifiquem. Passeiam sozinhas? Seus pensamentos estão, quase sempre, habitados por seus familiares, seus colegas, seus amigos ou inimigos... O egoísmo é o contrário de um solipsismo. O amor-próprio, o contrário do autismo.
Quanto mais amamos a nós mesmos, mais temos necessidade dos outros. Amamo-nos tanto melhor, ou tão mais intensamente, quanto menos amamos sozinhos. Caso contrário, iríamos querer ser amados? Poderíamos sê-lo?
Olhem essa multidão, numa reunião ou num espetáculo. Que entusiasmo, que comunhão, que intensidade de afetos ou de paixões! Que vitalidade, em cada um, multiplicada pela vitalidade de todos! É um perigo – pela violência, pela besteira, pela cegueira. As paixões se somam; as inteligências não. Existe algo mais besta que uma multidão?
Mas é também uma força, pela união, pela fusão, pela alegria ou pela cólera compartilhadas. Um grupo é mais que uma soma de indivíduos. É um ser a mais, com suas reações próprias, sua lógica própria, sua desmedida própria...
Para o mal, às vezes (o linchamento, o pânico, os massacres). Para o bem, outras vezes (a festa, a ação coletiva, a emoção compartilhada...).
André Comte-Sponville em "A vida humana" - Editora Martins Fontes.
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