quarta-feira, 2 de junho de 2010

Felicidade , vida e sentido



"Em nossas vidas, a voz de Deus fala devagar, uma sílaba de cada vez. Quando atingimos o auge de nossas vidas, dispersando algumas de nossas ilusões mais íntimas e aprendendo como soletrar, de trás para frente, o significado das experiências da vida, alguns de nós descobrem como as sílabas formam uma frase única".
Abraham Joshua Heschel

É natural querer desvendar a vida. Queremos respostas, não nos contentamos com o simples fato de estar-aí e viver. A angústia nos acomete quando respostas superficiais nos são dadas para questões tão fundamentais .
Engendramos sempre novos questionamentos, a cada resposta surgem inúmeros paradoxos. É bem verdade que conseguimos por um tempo ficar em nossa zona de conforto, deixando a vida passar, mas não por muito tempo.Sempre chega a hora em que os solilóquios acontecem e nos perguntamos se vale a pena a vida , se faz sentido estar aqui . Onde está o sentido das alegrias, lágrimas, agruras e trivialidades. Me satisfaz crer naquilo que Viktor Emile Frankl diz a respeito do sentido da vida: a auto-realização está na auto-transcendência, ou seja, a verdadeira felicidade está sempre em sair de si em direção ao outro, ninguém é feliz sozinho.
Assisti esses dias a um filme no qual o protagonista no final de sua jornada existencial disse: a felicidade só é real quando compartilhada.Lembro-me que Dalai Lama também disse: a felicidade está na busca, ou seja, a felicidade não é outra coisa senão o próprio caminho, não é a conquista de algo, mas o caminho percorrido.
Para Heschel , rabino que escreveu o trecho que usei no começo deste texto, a vida tem um sentido, ela possui um significado que muitas vezes demoramos para compreender.O sentido é desvelado ao contemplarmos o avesso da vida e para isso é necessário a distância e um novo olhar. Olhar de quem se descontaminou do imediatismo que nos cerca; das respostas frívolas e superciais pautadas em um puro sentimentalismo hollywoodiano ;de cenas de novelas, enfim, de tudo aquilo que é fácil para se encontrar, que não requer o labor.
Acredito que nossa maior busca é por uma realidade chamada felicidade. Sei que não conseguiria defini-la, sei que a busco incessantemente, por isso faço minhas as palavras de Harold Kushner:

“Você não passa a ser feliz perseguindo a felicidade. Você se torna feliz vivendo uma vida que signifique alguma coisa.”

“Você não se torna feliz perseguindo a felicidade. Ela é sempre um subproduto, nunca um objetivo primário. È como uma borboleta, quanto mais você tenta alcançá-la, mais ela foge e se esconde. Mas se parar a perseguição, guardar sua rede e se ocupar com coisas diferentes, mais produtivas que a caça da felicidade pessoal , ela virá pelas suas costas e pousará no seu ombro.”

Diego Vainer

Gerúndios

O que fazer quando não se sabe o que fazer?

Como caminhar se não sei o caminho que quero percorrer. Há pecado em não saber?

O tempo acontece mesmo que eu não saiba como vivê-lo.

A fé é a única realidade em mim que me leva a ver e contemplar o inexistente aparente. A conclusão de minha inconclusão. Minha divindade perante uma humanidade que me leva ao desespero às vezes.

Ser humano , ser gente, ser.

Fazer o que de meu ser que busca sua essência.

Às vezes caminha, outras vezes descaminha.

Sou mistério para mim mesmo.

De aventuras e desventuras vou sendo transformado pelas resignificações diárias que faço de mim mesmo e da vida; do mundo; do significado que o significar tem.

Estou me fazendo e refazendo a partir de experiências, lutas agruras .

Perdoando, amando , sofrendo, perguntando, lutando, caindo , sendo , morrendo, vivendo.

De gerúndios e interlúdios vou me acontecendo.


Diego Vainer

Incompletude minha

Falta.
Não sou inteiro, tenho saudades, tenho desejos, tenho amor.
Amor existe na gente porque a incompletude gritou nossa dor.
Procuro o que não tenho, mas não sei o que não tenho, só sei que não tenho.
Ávido meu coração está.
Mas sua avidez é burra, pois não sabe o que procura.
Que sentido há para a incompletude?
O sentido é a falta de sentido?
Mas o homem é metafísico não pode se contentar apenas com o físico.
Completude minha onde te escondes.
Te busco pelas ruas, no bar, nas pessoas, na religião, mas o que encontro se não desencontros.
O encontro registra marcos de nossas histórias.
Histórias são apenas lembranças de um passado, que ficou marcado, no coração que foi desconcertado, pelo encontro com o amado.
Incompletude minha.
Dor minha .
Não te deixarei jamais.
Pois sem ti deixarei de caminhar, de continuar a buscar, de andar.
Andar já é encontrar incompletudes que não me deixarão parar de caminhar .

Diego Vainer

Olhar

Olhar é elo que leva ao interior

Alegra, reprime, encoraja, salva e cura.

Estabelece relações e paixões

Não se deixa limitar. Interroga sobre significados.

Sabe desconcertar atitudes, pretéritos. Lança o presente ao futuro.

Quantos olhares nos marcaram.

Há aqueles que ficaram pois encheram a alma. Há aqueles que se foram por não terem sido correspondidos.

Há aqueles que não existem a não ser nas lembranças.

Mar é como olhar , imensidão.

Como olhar sem dar de si ?

Amar sem olhar é nadar sem se permitir molhar.

Chorar por olhar e não poder cuidar é prerrogativa que cada um pode trazer para si .

Que loucura. Alimentamos sentimentos que deveriam ser esquecidos, uma vez que nos deixou perdidos e feridos.

Aprender a olhar

Acolher no amar

Significar o ser no olhar

Diego Vainer

terça-feira, 1 de junho de 2010

Amar



Amar é dar-se.
Dar-se é a dor do amor.
Quem não se sacrifica ao amar.
Quem não chora e ri ao amar.
Não viveu o amar apenas pensou em amar.
Dor profunda é imaginar que se pode existir e nunca ter amado.
Amados fomos mesmo que nunca tenhamos sentido.
Mas o problema é nunca ter amado.
O sentido que dá à vida aquele que sentiu-se percebido.
E querido por aqueles sem o qual não haveria ter sentido, ter vivido.
Sempre existe alguém que não se imagina sem nos imaginar.
Que pensa, acorda e dorme querendo o nosso amar.
Sonha em existenciar em nosso ser.
Ser essência e permanência diária.
Na doce alegria sofrida que é o amar.
Coexistir no coração do amado é algo sagrado.
Coração é morada de poucos, porque pode ser sangrado se não cuidado e amado.
Amar o que és tu se não a morte de mim mesmo por ti amar.

Diego Vainer